Correnteza
“Ando só em suas trilhas, mesmo estreitas, com tantas curvas, descidas e subidas, mas sei que são sinceras e verdadeiras. Tiro os meus sapatos e fico descalço em suas terras, sinto toda energia que brota dela.
Uma terra tão fértil, onde tudo que plantarmos, com amor, nos dará. Mas a gente, em nossa extrema ignorância, insistimos em destruir o que ontem nos alimentou, hoje e amanhã nos libertará.
Ando sem pressa, ergo minha cabeça, fecho meus olhos e sinto essa brisa bater em meu rosto. Brisa essa que me faz esquecer de toda correria, do sufoco do dia a dia.
Sempre corremos atrás de mais e mais bens materiais. No desespero, corremos atrás do dinheiro e a gente nem se dá conta que, afinal de contas, o pão que eles nos dão nunca está inteiro.
Chego em suas cachoeiras e vejo águas tão belas, correndo livres, batendo nas pedras e me recebendo como a um abraço eterno. Mesmo se isso arrancar pedaços e deixá-los espalhados pelo caminho, como aquele abraço dado na despedida, que um dia, o coração deixou ferido.
E lá na frente, um rio de água cristalina se formará e toda a dor do coração, como as suas águas que nunca cessam, irá passar.”
Mita
Poeta da Rua, Movimento Negro, Limeira/SP
Gazeta de Limeira, Ano 91, nº 20.000, 16/07/2021, pág. 04