Primeira Mesa Redonda Inter-religiosa – Brotas/SP

Educar para paz em tempos de injustiça e violência.

  Aconteceu na cidade de Brotas, interior do Estado de São Paulo, no dia 20 de novembro de 2023, a primeira mesa redonda inter-religiosa, com a seguinte temática: Educar para paz em tempos de injustiça e violência. Tal evento foi organizado pelo Pe. Rene José de Sousa, assessor diocesano para o Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso, da Diocese de São Carlos, e teve o apoio da Diretoria de Cultura, na pessoa de Leandro Gomes da Silva (Diretor de Cultura). O evento teve como palestrante Pai Evandro Fernandes, que é Sacerdote Umbandista, doutor honoris causa pela faculdade FEBRAICA e ordem dos capelães do Brasil (Câmara Municipal de Campinas). É comendador da luta pela liberdade religiosa (Assembleia legislativa do Estado de São Paulo); Membro do Fórum inter-religioso para uma cultura de paz e liberdade de crença do Estado de São Paulo e também do município de Limeira.

  Pai Evandro em sua fala, abordou o aumento assombroso da violência religiosa e atitudes intolerantes, que  é um dos grandes males que assolam a nossa sociedade, e de modo particular, o Estado de São Paulo, e destacou que, tais atitudes perpassam pelo processo de demonização do outro e sua cultura, desumanizando o indivíduo e dessacralizando seus símbolos e objetos religiosos , impondo-lhes  uma máscara que não os pertence, a do demônio, assim sendo, o intolerante age com a consciência anestesiada, pois não está matando ou violentando um ser humano, mas o próprio demônio, que precisa ser exterminado, juntamente com toda a sua simbologia. Pai Evandro também frisou que o Estado de São Paulo possui uma lei (nº 17.346/2021) que se destina a combater toda e qualquer forma de intolerância religiosa e que a Secretaria de Justiça e Cidadania possui um canal de denúncias através do site www.justica.sp.gov.br ou pelos canais da ouvidoria: ouvidoria@justica.sp.gov.br / (11) 3291-2621 / (11) 3291-2624.

  Pe. Rene José, em seu momento de fala, refletiu sobre a Constituição Federal, no artigo 5º,§ VI, que afirma ser “inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma de lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”.  Mas que não é o que se percebe, pois templos estão sendo cada vez mais invadidos e profanados, e a liberdade religiosa está cerceada por atos criminosos, que gera um sentimento de insegurança aos adeptos das diversas tradições religiosas, e citou como exemplo, o ato ocorrido no dia 20 de setembro de 2023, num Terreiro de Umbanda, cidade de São Carlos, SP.

 O padre ainda afirmou que Identidades religiosas e culturais estão sendo negadas, demonizadas, violentadas, e vidas correndo o risco de serem ceifadas pelo fato da liberdade de consciência e de culto, prevista tanto pela Constituição Federal, quanto pela Declaração Universal dos direitos humanos, no artigo 18, não estarem sendo respeitadas, e reiterou que a Igreja Católica é contra toda e qualquer forma de violência, principalmente a religiosa, pois esta vai contra o mandamento do amor expresso em João 13,34, e também fere  seus princípios, principalmente o de promover e resguardar o direito da pessoa humana à liberdade religiosa. E citou o Papa Francisco em sua Carta Encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social, no parágrafo 282 em diante, enfatizando que “a violência não encontra fundamento algum nas convicções religiosas fundamentais, mas nas suas deformações e que a violência desencadeada em alguns grupos de qualquer religião é devido a imprudência de seus líderes, pois o culto sincero a Deus não leva a discriminação, ao ódio, mas ao respeito pela sacralidade da vida em suas diversas formas de se manifestar.”

 Pe. Rene José e Pai Evandro afirmaram a necessidade de falar e promover o combate à intolerância religiosa, não só por meio de projetos que podem ser engavetados, mas gestar na hodierna sociedade a consciência de que se faz necessário educar para paz, construindo-a diariamente no relacionamento com os semelhantes, em meio aos diversos ambientes que se encontram, envolvendo todos os âmbitos da sociedade. E exigir de nossos governantes, legisladores, do poder público em geral, o fazer valer a lei que assegura a liberdade religiosa, aos adeptos e templos de tantas denominações existentes, e a punição com o rigor da mesma, aos que não cumprirem, pois intolerância religiosa é crime.

 Concluíram repudiando toda e qualquer forma de violência, mas de modo especial, a de cunho religioso, e ressaltaram que, política, é relacionamento, como assegura o sociólogo brasileiro Herbert José de Souza (Betinho), em sua obra “Construir a utopia, proposta de democracia”, e que este não se dá somente com seus pares, mas num todo, em prol do bem geral. E os indivíduos imbuídos pela fé, deveriam pensar naqueles que não possuem esta como princípio, e assim agir de modo que sua participação contemplasse o todo, levando em conta os três princípios básicos que são necessários para construir uma proposta democrática: “a igualdade manifesta em todos os níveis da atividade humana, a participação e aceitação da diversidade”, de modo que ninguém fique excluído.

Texto de Pe. Rene José.